O meu Diagnóstico


Há uns anos que descobri que tinha Doença Celíaca (DC). Nessa altura perguntei: e agora? A minha cabeça encheu-se de dúvidas! Sentei-me à frente do computador e procurei respostas. Na altura não havia muitas! Falei com os meus médicos, investiguei, e queria conhecer alguém igual, que tivesse os mesmos sintomas e restrições que eu... Mas não conheci!

Descobri sintomas anormais assim que entrei para a faculdade, onde estava a frequentar o curso de Engenharia, área em que trabalho actualmente. Mas sempre associei os sintomas de cansaço intenso ao facto de estar a viver uma nova etapa na minha vida, mais agitada, muita correria de um lado para o outro, aliado ao ginásio que decidi frequentar, só para ganhar alguma massa muscular. O cansaço era muito, mas o meu espírito persistente fazia com que todos os dias levantasse o esqueleto da cama e o levasse ate á faculdade. Não conseguia ter o rendimento que queria… a cabeça estava cansada, assim como todos os músculos do meu corpo. Os dias eram preguiçosos, contrariamente ás noites agitadas sem conseguir dormir 2 horas seguidas, sequer. De hora a hora a barriga reclamava com fome. Mas fome mesmo, chegando ao ponto de ir ao frigorífico e comer a feijoada, que havia sobrado do jantar. E sem engordar, na altura pesava 46kg. Com a barriga mais composta, tentava dormir, mas infelizmente os episódios de dores abdominais, diarreias e enjoos não me deixavam descansar. E a ansiedade aumentava, sabendo que daqui a algumas horas teria de me levantar e pôr-me a caminho. Hoje, quando olho para trás, vejo que já fazia algumas exclusões involuntariamente. Eliminava o pão, as massas e as pizzas, por associação ao enfartamento e à má disposição constante.

E passei uns tempos nisto, condicionada demais, na minha vida. Até que, a minha melhor amiga de sempre e para sempre, mãe, me arrastou literalmente para o médico! Estava a definhar! Embora sempre a negar, e a dizer, que não seria nada. Já na minha infância era magrinha, sempre fui! Talvez fosse de mim. Talvez fosse assim!! Achava normal.

Nessa altura conheci a Professora Drª Estela Monteiro, médica excepcional, que me diagnosticou DC, após análises ao sangue, biopsias e uma radiografia contrastada (hoje sei que existem métodos diferentes). Disse-me com um ar espantado, que não sabia como estava, ainda de pé! E mais espantada ficou, quando lhe referi que ainda frequentava o ginásio! Claro, levei logo um “raspanete”! Mas como iria eu saber? O cansaço que tinha associava-o as idas ao ginásio, para ganhar alguma massa muscular (achava eu) e nunca a uma doença.

Estava explicado, o porquê de me levantar hora a hora. A minha digestão era feita em 45 minutos e portanto a “fomeca” era demasiada. Apesar do muito que comia, pouco era assimilado. As carências vitamínicas e de minerais eram notadas, assim como, o meu estado anémico grave por carência de ferro, daí o forte cansaço e dores musculares. NÃO ERA DO GINÁSIO!!

Numa consulta, depois de todos os exames feitos, foi-me explicada, com toda a paciência do mundo, o que era esta doença, as suas implicações e a dieta que teria de abraçar para toda a vida e lembro-me da seguinte frase que a Drª me disse: “nem a migalha que estiver em cima da mesa, você pode comer”. OK! Percebi que era coisa para levar á letra, ou melhor à migalha! Logo de seguida perguntei: Gravidez, irei ter problemas? Medicamentos, terei de tomar? Sem problema! Óptimo. Pergunta seguinte: onde compro estes alimentos?

Claro, não foi logo assim tão fácil e tão rápido, tive de tomar reforços de ferro e fazer alguns exames de rotina.

Saí da consulta, e lembro-me de duvidar daquilo! Como é que, fazer uma dieta rigorosa sem glúten, sem ter de recorrer a medicação, me vai ajudar a recuperar? Mas fiz! Fazer para crer! A partir daqui a minha vida mudou. COMPLETAMENTE.

Passei a ter uma alimentação mais cuidada e a comer TUDO sem glúten, fiz uma lista do que podia e não podia comer, falei com os meus pais e mano, do que podia comer ou não…nessa altura ainda estávamos todos juntos. Nos alimentos que tinha duvidas, evitava!

Aos poucos, ia falando com os meus amigos mais próximos, e achava muita piada porque uns dias a seguir já eram eles que me diziam podes/não podes. Hoje, já nas suas próprias casas, quando me convidam, não preciso dizer mais nada. Sabem tudo o que contém e o que não contém glúten. E fico comovida, porque dão-se ao trabalho de também, os de casa, comerem sem glúten, comigo. Adoro-os! São meus amigos!
As alterações que fiz, na altura e que ainda mantenho são até positivas:

  • Passei a ler todos os rótulos, mas ainda assim percebi que não seria por aí, nem todos os produtos estão identificados correctamente e surgem imensas dúvidas no início. Acho que é por ter uma ligação próxima da cozinha, que me levou, mais rápido, a conhecer todos os ingredientes que continham glúten.
  • Passei a frequentar, mensalmente, semanalmente, as lojas Celeiro. E também a gastar mais dinheiro!
  • A organizar a minha dispensa de forma diferente, criando o meu cantinho sem glúten!
  • Passei a lanchar e a tomar o pequeno almoço fora. Que, na minha opinião, é o mais “difícil”.
  • Quando como fora, em restaurantes, procuro escolher, no menú, alimentos que naturalmente não contêm glúten.
  • A ter a minha própria torradeira. Não há cá, nem pode haver, misturas!
  • Nas viagens, que faço, não corro riscos e levo sempre o nosso pão dentro da minha mala de viagem. Menos roupa, mais saúde!
  • Comecei a pensar que não sabia fazer bolos. Todos me saiam duros, desagregados e muito“enfezados”!

Fiz a dieta, mas é preciso paciência, persistência e aconselho a não desistir, porque os resultados e a qualidade de vida são imensos.

Só passado um ano, comecei a sentir que estava diferente, comecei a melhorar as minhas capacidades físicas e mentais. Consegui finalmente ganhar algum peso e os sintomas que tinha forma desaparecendo gradualmente. Passei de um estado condicionador, depressivo, mais neura, e anémico para um estado muito libertador. E senti-me tão melhor comigo e com os outros.

Quando criei o meu cantinho “blogosférico”, dei vida à “Rapariga do Blog ao Lado” que conjuga a minha condição alimentar, ás minhas duas paixões: a culinária e a fotografia. Afinal esta condição gira à volta de comida! Penso que é necessário desmistificar e divulgar a DC, explicar ás pessoas que nós, celíacos, conseguimos levar uma vida perfeitamente normal. Que não somos esquisitos, maníacos, ou simplesmente não comemos glúten por capricho. Sem glúten somos mais felizes.

*Bj sem espiga

8 comentários:

  1. Parabéns!
    Revi-me completamente na tua descrição... Também eu sou celíaca e fui durante muitos anos sem ser diagnosticada.
    Levantava-me todos os dias às 6h30m para ir trabalhar e frequentava diariamente o ginásio (porque também sou instrutora de fitness) e quando cheguei aos 42 kg percebi que algo estava mal... Não tinha qualquer sintoma a não ser, 1 ano antes do diagnóstico, estomatites aftosas semanais! E, claro, a anemia que me acompanhava há anos.
    A partir do diagnóstico e da dieta IG, a minha vida mudou completamente!

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    1. Ola Ana, obrigada por deixares aqui o teu testemunho. Fiquei impressionada com a tua historia, afinal a tua profissão e a anemia constante que sentias, devido à DC, não deviam ser nada fáceis de conciliar. Que força terias de ter a dobrar... Fico contente que tenhas ultrapassado com sucesso e que estejas BEM após diagnóstico e seguindo a DIG à risca. Parabéns também a ti :)

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  2. Obrigado pelo testemunho. Eu sou Celíaca diagnosticada à 6 meses e ainda estou numa fase de habituação, ainda tenho um cansaço muito grande e ainda não estou propriamente em grande forma física, mas na alimentação foi com alguma facilidade que me adaptei...ao ler a sua história ajudou-me perceber que DEMORA mesmo algum tempo até nós sentirmos "BEM" outra vez.. Confesso que esta demora por vezes me cria alguma ansiedade.

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    1. Olá Carla, obrigada pelo testemunho ;). A ansiedade é normal pois o que mais queremos é ficar bem, acredito que anseie por isto o quanto antes. Continue a DIG (a 100%) e vai ver que vai ficar mesmo BEM. A qualidade de vida que se consegue vai valer a pena este esforço inicial, que depois passa a fazer parte da rotina sem darmos conta...;)

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  3. Olá lipita :) Obrigada por este blog fantástico.

    Descobri à cerca de 3 dias a minha sensibilidade ao gluten depois de 3 anos de sofrimento - dores de estômago, distenção abdominal, gases, cada vez que fazia xixi havia fezes (é considerado diarreia segundo a minha médica), um cansaço extremo (ando sempre sem energia), refluxo ácido, fiz uma esófagite, pele amarelada, olheiras, palidez, peso baixo com oscilações....o que levou ao atraso do meu diagnóstico foi ter tido anorexia na adolescência e familia e médicos associavam todo o meu mal estar a uma recaída e subnutrição...por mais que eu a sete pés que andava a comer super bem e que não ando a fazer cortes na alimentação!!! Felizmente no meio de tantas consultas à 3 semanas a uma nutricionista que sugeriu um corte "para já no trigo"...mas os sintomas continuaram e pioraram com o pão de centeio (não tem trigo mas tem gluten!) Foi então que se colocou na mesa a questão do gluten! A verdade é que em 3 dias já sinto melhoras e é um alívio imenso. sábado tenho nova consulta e vou embarcar mais a sério nisto da Dieta Insenta de Gluten. a minha avó foi diagnosticada por volta dos 20 anos com sindrome de cólon irritável...mas no tempo em que foi e dado o tabu e desconhecimento que ainda existe sobre a DC nos adultos quase que aposto que é um caso mal diagnosticado...porque ela continua a sofrer imenso do intestino e de problemas de pele.

    Obrigada Lipita por este blog que tem sido o meu guia neste meu novo mundo!

    Um beijinho grande!
    Joana

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    1. Olá Joana, obrigada por partilhares connosco a tua historia. Conheço bem estes sintomas, o síndrome do cólon irritável foi o meu diagnostico durante anos....O acompanhamento medico é fundamental e a persistência para seguir a DIG, à risca, traz resultados positivos. A qualidade de vida que ganhamos vale por todos os NÃOS que dizemos ao Gluten, acredita! Força e as melhoras, vai dando noticias. BJ Lipita

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  4. O meu filho depois de 3 meses com diarreias horriveis, e com medo que fosse algo mais terrivel pedi umas analises e ja com dois casos de alergias alimentares na familia ( D.C e intolerancia a lactose) foram especificas e uma endoscopia ao intestino, resultado Doença Celiaca depois de 4 anos a ser uma criança "normal" pelo menos eu achava mas estavam la alguns indicios ( baixo peso, baixa estatura e distensão abdominal, que associavamos ao respirar pela boca), posso dizer que desde Março ate agora as diferenças nele são muitas, engordou 6 quilos, aumentou de tamanho e tem um ar saudavel!! Na altura fiquei "apavorada", agora gosto de aprender coisas novas para a DIG!!! Bjnh

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  5. Olá Carla obrigada por deixar e partilhar connosco a sua historia.
    Que bom mês o de Março ahh! Não me farto de dizer que descobrir esta doença é de facto libertador, a partir do momento em que assumimos a DIG o corpo começa a reagir para melhor, para de bem connosco e com os outros....com a Vida!
    Que bom que o seu filhote está bem agora e a crescer saudável e o que lhe vale, também, é essa sua vontade em aprender essas coisas novas para a DIG, como diz ;) Espero contribuir de alguma forma. Um bj e vá dando noticias por aqui.
    Lipita

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