terça-feira, outubro 08, 2013

Doença Celíaca, o meu diagnostico

Hoje vou falar de mim, não gosto, mas achei importante!

Há uns anos que descobri que tinha Doença Celíaca (DC). Nessa altura perguntei: e agora? A minha cabeça encheu-se de dúvidas! Sentei-me à frente do computador e procurei respostas. Na altura não havia muitas! Falei com os meus médicos, investiguei, e queria conhecer alguém igual, que tivesse os mesmos sintomas e restrições que eu... Mas não conheci!

Descobri sintomas anormais assim que entrei para a faculdade, onde estava a frequentar o curso de Engenharia, área em que trabalho actualmente. Mas sempre associei os sintomas de cansaço intenso ao facto de estar a viver uma nova etapa na minha vida, mais agitada, muita correria de um lado para o outro, aliado ao ginásio que decidi frequentar, só para ganhar alguma massa muscular. O cansaço era muito, mas o meu espírito persistente fazia com que todos os dias levantasse o esqueleto da cama e o levasse ate á faculdade. Não conseguia ter o rendimento que queria… a cabeça estava cansada, assim como todos os músculos do meu corpo. Os dias eram preguiçosos, contrariamente ás noites agitadas sem conseguir dormir 2 horas seguidas, sequer. De hora a hora a barriga reclamava com fome. Mas fome mesmo, chegando ao ponto de ir ao frigorífico e comer a feijoada, que havia sobrado do jantar. E sem engordar, na altura pesava 46kg. Com a barriga mais composta, tentava dormir, mas infelizmente os episódios de dores abdominais, diarreias e enjoos não me deixavam descansar. E a ansiedade aumentava, sabendo que daqui a algumas horas teria de me levantar e pôr-me a caminho. Hoje, quando olho para trás, vejo que já fazia algumas exclusões involuntariamente. Eliminava o pão, as massas e as pizzas, por associação ao enfartamento e à má disposição constante.


E passei uns tempos nisto, condicionada demais, na minha vida. Até que, a minha melhor amiga de sempre e para sempre, mãe, me arrastou literalmente para o médico! Estava a definhar! Embora sempre a negar, e a dizer, que não seria nada. Já na minha infância era magrinha, sempre fui! Talvez fosse de mim. Talvez fosse assim!! Achava normal.

Nessa altura conheci a Professora Drª Estela Monteiro, médica excepcional, que me diagnosticou DC, após análises ao sangue, biopsias e uma radiografia contrastada (hoje sei que existem métodos diferentes). Disse-me com um ar espantado, que não sabia como estava, ainda de pé! E mais espantada ficou, quando lhe referi que ainda frequentava o ginásio! Claro, levei logo um “raspanete”! Mas como iria eu saber? O cansaço que tinha associava-o as idas ao ginásio, para ganhar alguma massa muscular (achava eu) e nunca a uma doença.

Estava explicado, o porquê de me levantar hora a hora. A minha digestão era feita em 45 minutos e portanto a “fomeca” era demasiada. Apesar do muito que comia, pouco era assimilado. As carências vitamínicas e de minerais eram notadas, assim como, o meu estado anémico grave por carência de ferro, daí o forte cansaço e dores musculares. NÃO ERA DO GINÁSIO!!

Numa consulta, depois de todos os exames feitos, foi-me explicada, com toda a paciência do mundo, o que era esta doença, as suas implicações e a dieta que teria de abraçar para toda a vida e lembro-me da seguinte frase que a Drª me disse: “nem a migalha que estiver em cima da mesa, você pode comer”. OK! Percebi que era coisa para levar á letra, ou melhor à migalha! Logo de seguida perguntei: Gravidez, irei ter problemas? Medicamentos, terei de tomar? Sem problema! Óptimo. Pergunta seguinte: onde compro estes alimentos?

Claro, não foi logo assim tão fácil e tão rápido, tive de tomar reforços de ferro e fazer alguns exames de rotina.

Saí da consulta, e lembro-me de duvidar daquilo! Como é que, fazer uma dieta rigorosa sem glúten, sem ter de recorrer a medicação, me vai ajudar a recuperar? Mas fiz! Fazer para crer! A partir daqui a minha vida mudou. COMPLETAMENTE.

Passei a ter uma alimentação mais cuidada e a comer TUDO sem glúten, fiz uma lista do que podia e não podia comer, falei com os meus pais e mano, do que podia comer ou não…nessa altura ainda estávamos todos juntos. Nos alimentos que tinha duvidas, evitava!

Aos poucos, ia falando com os meus amigos mais próximos, e achava muita piada porque uns dias a seguir já eram eles que me diziam podes/não podes. Hoje, já nas suas próprias casas, quando me convidam, não preciso dizer mais nada. Sabem tudo o que contém e o que não contém glúten. E fico comovida, porque dão-se ao trabalho de também, os de casa, comerem sem glúten, comigo. Adoro-os! São meus amigos!

As alterações que fiz, na altura e que ainda  mantenho são até positivas:

  • Passei a ler todos os rótulos, mas ainda assim percebi que não seria por aí, nem todos os produtos estão identificados correctamente e surgem imensas dúvidas no início. Acho que é por ter uma ligação próxima da cozinha, que me levou, mais rápido, a conhecer todos os ingredientes que continham glúten.

  • Passei a frequentar, mensalmente, semanalmente, as lojas Celeiro. E também a gastar mais dinheiro!

  • A organizar a minha dispensa de forma diferente, criando o meu cantinho sem glúten!

  • Passei a lanchar e a tomar o pequeno almoço fora. Que, na minha opinião, é o mais “difícil”.

  • Quando como fora, em restaurantes, procuro escolher, no menú, alimentos que naturalmente não contêm glúten.

  • A ter a minha própria torradeira. Não há cá, nem pode haver, misturas!

  • Nas viagens, que faço, não corro riscos e levo sempre o nosso pão dentro da minha mala de viagem. Menos roupa, mais saúde!

  • Comecei a pensar que não sabia fazer bolos. Todos me saiam duros, desagregados e muito “enfezados”!

Fiz a dieta, mas é preciso paciência, persistência e aconselho a não desistir, porque os resultados e a qualidade de vida são imensos.

Só passado um ano, comecei a sentir que estava diferente, comecei a melhorar as minhas capacidades físicas e mentais. Consegui finalmente ganhar algum peso e os sintomas que tinha forma desaparecendo gradualmente. Passei de um estado condicionador, depressivo, mais neura, e anémico para um estado muito libertador. E senti-me tão melhor comigo e com os outros.


Quando criei o meu cantinho “blogosférico”, dei vida à “Rapariga do Blog ao Lado” que conjuga a minha condição alimentar, ás minhas duas paixões: a culinária e a fotografia. Afinal esta condição gira à volta de comida! Penso que é necessário desmistificar e divulgar a DC, explicar ás pessoas que nós, celíacos, conseguimos levar uma vida perfeitamente normal. Que não somos esquisitos, maníacos, ou simplesmente não comemos glúten por capricho. Sem glúten somos mais felizes.

*Bj sem espiga

13 comentários:

  1. Obrigada pelo testemunho, é preciso passar essa mensagem, há muitos celíacos por diagnosticar, e fazer passar também a informação de que lá porque se chama dieta sem glúten não quer dizer que seja apenas uma dieta para emagrecer...

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    1. Obrigada, Lucente pelo comentário, todos juntos iremos conseguir passar a MENSAGEM.

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  2. Adorei o post de hoje! identifiquei-me com esta historia e com as alterações que temos de fazer na nossa vida. Ainda me ri sozinha.Obrigada ;)

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    1. Paula, obrigada pelo comentário. É verdade que fazemos varias alterações mas são compensadas com a qualidade de vida que descobrimos ter, após a dieta.

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  3. Minha linda activista :) muito importante este teu testemunho.
    Adoro-te :)

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    1. Obrigada por estares comigo, também, aqui na "luta" ;)

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  4. Muito bonito, elucidativo e com sentimento este post!
    É, de facto, uma doença que em Portugal se sabe muito pouco. O próprio termo "celiaco" era-me desconhecido até, ha tres anos atras, ter conhecida uma rapariga (actualmente amiga do meu coração) que tinha a doença.
    Penso que noutros países, como o Brasil, se sabe muito mais pois a dieta acaba adoptada a por quem quer emagrecer!
    Mas, cá em Portugal, faltam testemunhos assim, falta informação, e blogs com este que se consegue distinguir dos milhares, senao milhoes, de blogs que por aí andam! sao todos giros, mas este é especial.
    A forma simples e positiva com que abraça é doença é de se louvar.
    muitos parabéns por este trabalho!
    Devia divulgar cada vez, pois há imensas pessoas que precisam desta ajuda e deste incentivo sendo que muitas nem o sabem ainda.

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    1. Ana, obrigada pelas palavras que deixou, temos de abraçar esta doença de uma forma positiva, afinal foi o melhor que me aconteceu na vida! Descobrir, aceitar, abraça-la para toda a vida e agora poder divulgar desta forma.

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  5. Amei amei amei!
    Leitura muito simples!
    Keep on the good work!!

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  6. Ola Lipita! os meus parabens pelo trabalho excelente que publicou sobre a doenca celiaca dando o seu proprio testemunho. Nao é fácil voltr a lembrar momentos díficeis por que passou até lhe ser diagnosticada a doenca por isso, louvo a coragem e determinacao pela maneira positiva como expõe e abraça a doença. Felicito-a pela informaçao acessivel e bem e estruturada na abordagem do tema DC dando a conhecer sintomas, caminhos a seguir, produtos existentes no mercado e a criatividade de os confecionar sugerindo dicas para os tornar mais apetecíveis . A apresentaçao e divulgaçao deste trabalho e preciosa e uma mais valia na continuidade do trabalho da ADC. Admiro o empenho a força e sobretudo o desejo de querer transmitir e ajudar todos os que sofrem com esta doença e que possivelmente a desconhecem. Oxalá esta sua entrega produza bons frutos. MAGNIFICO ! Obrigada, continue, um beijo da Clara.

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  7. Ao fazer pesquisas sobre esta doença encontrei este testemunho, com o qual me identifico. Estou há cerca de mês e meio numa dieta sem glúten. A minha anemia começou a melhorar em 15 dias com essa dieta. Andei 4 meses a suplementos de ferro e ela não melhorava. A minha vitamina D tb estava péssima. Posso dizer que é um tormento sentir determinados sintomas sem se saber o que tem. E mesmo sabendo. As tonturas ainda não melhoraram assim tanto. Mesmo a fazer a dieta, ainda tenho tonturas de vez em quando e fico preocupada. Será que é normal ainda não terem passado?
    Obrigada pelo teu testemunho e pelo blogue.

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